07 abril 2015

Mulher, mãe, poeta, avó, doceira, brigona, por vezes mal humorada...simples assim

Mulher, mãe, poeta, avó, doceira, brigona, por vezes mal humorada, deve ser entendida e admirada como um ser iluminado. Pessoa extremamente sensível, de conversa fácil e pensamento complexo. Impossível de ser esquecida, tinha suas manias, o dicionário como livro de cabeceira, seus dizeres, seus ditados… Antes de trazer seus poemas para a palavra escrita fez poesias usando seu inventário de vida.
Escritora Brasileira
Cora tinha censores intra e extracasa, mas sua poesia extrapolava estes e outros e tantos limites. Essa fantástica Cora Coralina compõe-se de várias mulheres: a Ana revolucionária, feminista, religiosa e líder política que enviuvou, viveu em terras distantes por 45 anos, plantou rosas e depois retornou à Goiás de sua meninice. Aos 76 anos, publicou seu primeiro livro, reconquistou a Casa Velha da Ponte, construiu um belo nome de doceira e fez poesia. Faleceu em 10 de abril de 1985, em Goiânia – Goiás, aos 96 anos de idade.

27 março 2015

"Quem carrega o mar nos seus limites tem carinho com o mar.", Adélia Prado

Um peixe me contou que a vida é muito curta para vivermos longe do mar. As almas do interior são muito diferentes das almas litorâneas. As primeiras carregam o peso da terra e dos ossos dos mortos sobre seus ombros, e as outras, estrelas marinhas e o infinito no lugar dos olhos.

17 julho 2014

MELHOR QUE DOCE


Lendo um artigo da monja Coen sobre o porquê de ela ter escolhido o Zen Budismo como prática religiosa, ela respondeu: “porque era melhor do que qualquer doce, que qualquer carinho, melhor do que qualquer coisa.”
Achei simplesmente perfeita a resposta. Como explicar o que acontece quando comemos um chocolate delicioso ou quando recebemos um carinho maravilhoso e, melhor, que vem de surpresa, sorrateiro e manso? Que começa lento, acariciando o ombro, a alça do soutian, sobe pelo queixo e se demora nos lábios?
É muito difícil explicar certas coisas. E queremos sempre explicar. Nossa tradição Ocidental baseada na lógica necessita de respostas. Por que é tão difícil entender que muito antes que o cérebro perceba qualquer coisa, quem faz a escolha é o coração? Não é uma visão romântica. Muito pelo contrário. É física, é visceral, intuitiva, espontânea. Na tradição Budista, se você sente, isso basta para ser verdade. Não a verdade do mundo, mas a sua própria. Por isso há tanto silêncio, não há ninguém querendo provar que sua nova teoria está certa e a de seu irmão errada.
E como é difícil para nós essa briga entre o querer racional e o intuitivo! Como se não pudéssemos querer o que realmente queremos. Como se fosse uma falha muito grave não ter domínio sobre tudo. Colocamo-nos cercas elétricas, muros, coletes à prova de bala de abraços e de beijos. Assim o ‘mal’ não entra.
E o ‘mal’ já está dentro de nós. Não percebemos que ele não vem de fora, como dizia Jesus: O que contamina o homem não é o que vem de fora e sim o que vem de dentro. São nossos preconceitos, nossos medos e a insegurança de confrontar com algo que é maior que nós, porque está na esfera dos sentidos e é melhor que doce...
Esquecemos que aquilo que negamos, prevalece. Aquilo que tentamos sufocar, cresce e ganha força. É uma lógica do Universo. Não tem nada a ver com castigo de Deus ou com o livre-arbítrio, pois está ligado às próprias regras do Cosmos. É lei, acima do bem e do mal.
"Existe o pensar, existe o não pensar; e existe o além do pensar e do não pensar."* É justamente aí que mora a felicidade, a alegria fugaz de ser pega de surpresa num momento de carinho, do afago sincero e urgente que ultrapassa todos os planos e o megadestino que traçamos para nós mesmos, porém que nunca se realizará porque carece de algo concreto, mas extremamente sutil, carece de verdade. O corpo nunca mente. O cérebro nunca diz a verdade.


 *Monja Coen

23 abril 2014

Porque faz bem às vistas e ao coração












Des-agregando certos vícios


   Se na música, decoração, vestuário há modismos, isso também acontece com a linguagem. Não é porque existem regras que intencionam  a normatização e a uniformidade de um idioma, que não aparecerão neologismos, ou novas formas de dizer velhas coisas  e expressar sentimentos. Isso é natural e faz parte da capacidade criativa humana, e de tudo o que está vivo em constante movimento. Neste quesito, porém, podemos afirmar que os brasileiros são geniais, pois a infinidade de novas construções e vocábulos que aparecem diariamente é impossível de dimensionar.
  Criatividade à parte. O caso aqui discutido é justamente o contrário: a falta dela. Volta e meia resolve-se desenterrar uma palavra em desuso ou ‘importar’ algum termo de alguma área específica e utilizá-lo indiscriminadamente. (Quem já ouviu a entrevista do “rei do camarote” sabe bem do que estou falando)
   Como tivemos a moda das ombreiras enormes, da lambada, dos cabelos black powers e chapados, já tivemos também a moda da palavra “prazerosa” para exprimir algo realizado com êxito. Da expressão “com certeza” para substituir o simples “sim”. O gerundismo indiscriminado que floresceu com o advento do telemarketing e está difícil de ir embora!
 “Vamos combinar”, todo mundo gosta e faz uso de modismos. Contudo, há que se ficar atento ao exagero. Nosso vocabulário é riquíssimo em sinônimos e muitas vezes nos esquecemos disso. Outro ponto a que devemos dedicar atenção é se aquela palavra realmente pertence àquele contexto. “A nível de” riqueza vocabular não estamos “agregando nenhum valor” “através” de expressões que dizem sem dizer, ou seja, parecem bonitas na retórica, mas cujos significados ou estão distorcidos ou são totalmente vazios.

Não pretendo apregoar nenhuma verdade, muito menos carregar bandeira, “fardo muito pesado para mulher”(não poderia deixar de citar minha poeta preferida Adélia Prado). No entanto, como profissional da área, sinto-me na obrigação de alertar com relação ao uso exagerado de alguns termos, principalmente nos registros formais. Uma vez que esses são documentos históricos e que perpetuarão nosso estilo – ou pior, a falta dele.

17 setembro 2013

A casa




 “Um conhecido meu, por sua incapacidade de combinar o sonho com a realização, terminou com sérios problemas financeiros. E pior: envolveu outras pessoas, prejudicando gente que não queria ferir.

   Sem poder pagar as dívidas que se acumulavam, chegou a pensar em suicídio. Caminhava por uma rua, certa tarde, quando viu uma casa em ruínas. “Aquele prédio alí sou eu”, pensou. Neste momento, sentiu um imenso desejo de reconstruir aquela casa. Descobriu o dono, ofereceu-se para fazer uma reforma – e foi atendido. Embora o proprietário não entendesse bem o que meu amigo ia ganhar com aquilo. Juntos, conseguiram tijolos, madeira, cimento. Meu amigo trabalhou com amor, sem saber para quê ou para quem. Mas sentia que sua vida pessoal ia melhorando à medida que a reforma avançava. No fim de um ano, a casa estava pronta. E seus problemas pessoais solucionados.” Chistina Belloni

17 fevereiro 2013

O que eu quero


O que eu quero?

Eu quero a sorte de um amor tranquilo,
Com sabor de fruta mordida.

Sim, Cazuza, como você!
Quero ter  lado certo na cama,
Travesseiros bordados com iniciais,
Filme escolhido junto no final de semana
E o tédio daquela pizza sem sabor de domingo à noite.
Quero acompanhar as fases, as transformações, os primeiros cabelos e barbas brancas.
Quero sentir a tristeza de perceber os primeiros esquecimentos, a dificuldade em levantar da cama.

Quero ser chamada de querida e me sentir amada.
Quero que note a flacidez da minha pele  e,  mesmo assim, continue a programar  férias na praia.
Quero exercitar a tolerância com as mesmas piadas e manias.
Quero seguir e ser seguida até o final.
Ou até o ponto do caminho no qual não é mais possível atravessar a dois.
E sentir a dor corroer a alma por ter que deixar ou ser deixada,
Mas morrer de alegria por saber do amor, da beleza, da amizade, do lar, da vida vivida e compartilhada.


11 janeiro 2013

Reza


É preciso rezar.
Rezar a vida,
Rezar os dias, o trabalho, rezar aqueles que amamos, rezar a casa,
Rezar as plantas, rezar os bichos.
Rezar a gente.
Vivemos de benzimentos,
De bem-dizer e  de abençoar.

Fazendo doce...


Lava,
Descasca,
Pica, rala...
Lava de novo.
Põe em fogo lento.
Mexe cuidadoramente para preservar as fibras.
Tudo na medida certa.
Mãos comedidas e exatas.
Deixa apurar.
Hora de queimar o açúcar.
O ponto de voar:
Retira a colher de pau, deixa o caramelo escorrer e assopra.
Se o caldo fizer um movimento gracioso no ar está pronto!
O doce precisa de descanso.
Precisa de tempo e paciência.
Precisa ser olhado, sentido, cheirado e muito tocado.
Vida de doceira é uma peleja contra a pressa, a preguiça e o relaxo.
Tudo é motivo para passar do ponto e perder todo o serviço.
E não é assim no amor?

30 novembro 2012

Nada


Aprendi a não confiar em quem nunca foi ao inferno.
De quem nunca dormiu com a morte
Nunca beijou a  terra nua
E nunca olhou nos olhos da miséria humana.
De quem nunca foi grama e nunca sentiu o peso do mundo sobre si
De quem nunca se sentiu coisa inanimada, inexistente aos olhos dos bonitos do mundo.
De quem nunca se sentiu invisível, sem importância, sem luz ou brilho.
Apagado, sem som, esquecido.

Uma pedra sabe muito do mundo.
Ali no silêncio e no vazio de si mesma
Toda sabedoria repousa.


21 outubro 2012

O fogo


Meu avô cortava lenha.
Minha avó cuidava do fogo.
Um dia minha avó morreu.
Meu avô cortou a lenha, lavou as mãos e morreu.
Foi exatamente assim.

17 outubro 2012

Transgressores de alma


"Aqueles que se permitem transgressões da alma com certeza são vistos e recebidos pelos outros como estrangeiros. Os que mudam de emprego radicalmente, os que refazem relações amorosas, os que abandonam vícios, os que perdem medos, o que se libertam e os que rompem experimentam a solidão que só pode ser quebrada por outro que conheça essas experiências. A natureza da experiência pode ser totalmente distinta, mas eles se tornarão parceiros enquanto 'forasteiros'."
Nilton Bonder, "A alma imoral"

14 outubro 2012

Daquilo que depende de mim...só de mim


E fico pensando sobre até que ponto sou guiada pela esperança e até que ponto pela ilusão.
E percebo que nem é difícil saber.Basta que eu queira estar desperta. Basta que eu queira vencer as decepções.
É que quando elas se tornam muitas temos a falsa ideia de que não irão acontecer mais. E me esqueço que no Universo quando mais tenho de alguma coisa, mais isso me é dado. E o que tenho que fazer é olhar de frente e entender o por quê de fatos recorrentes, de assuntos que insistem em permanecer em pauta.Coisas que já deveriam ter morrido, desaparecido, virado pó!
A decepção passa  a fazer parte da nossa vida quando tiramos o foco de nós e depositamos no outro.
Quando achamos que o outro vai, no mínimo, fazer a parte dele. Vai ser fiel, leal, honesto...enfim tudo aquilo que não deveríamos esperar ou alimentar em ninguém que não seja em nós mesmos.

Kant nos dá uma pista:

O que eu sei? O que devo fazer? O que devo esperar? No entanto, as respostas para a segunda e terceira perguntas dependem da resposta para a primeira: nosso dever e nosso destino podem ser determinados somente depois de um profundo estudo do conhecimento sobre nós mesmos.

Ou seja, as perguntas, a atenção, o foco, devem estar direcionados a  mim e a ninguém mais: o que eu sei? O que devo fazer? O que posso fazer? Daí o que eu posso esperar! E mesmo assim é apenas uma possibilidade e nunca uma certeza. Pois há outras variantes que interferem no resultado.
Essa espera, resultado daquilo que EU faço, é a verdadeira esperança. Já a espera que vem  do outro, do que o outro pode ou irá fazer ou sentir, isso sim é a mais pura ilusão.

A verdadeira alegria vem quando aquilo que sonhamos, pensamos e achamos sobre nós, caminha junto que nossos atos, com aquilo que fazemos diariamente.É a mesma elegância e êxtase da dança: pensar-ouvir-fazer, tudo simultaneamente. Se der certo, ótimo. Se não, ótimo também!
Esta letra de Ivan Lins, De tudo o que eu sei, ilustra bem isso:

Daquilo que eu sei
Nem tudo me deu clareza
Nem tudo foi permitido
Nem tudo me deu certeza...

Não fechei os olhos
Não tapei os ouvidos
Cheirei, toquei, provei
Ah Eu usei todos os sentidos
Só não lavei as mãos
E é por isso que eu me sinto
Cada vez mais limpo! cada vez mais limpo! Cada vez mais limpo!

Desejo que possamos ter esperança real, palpável, e consequentemente, alegria sincera. Que possamos nos conhecer e só assim, nos aperfeiçoar e saber o que podemos esperar de nós, onde podemos chegar com nosso esforço. Só com o nosso.

12 outubro 2012

O rato e o dragão


Os dois amigos caminhavam lado a lado. O dia terminava e era hora de voltar para a caverna.
- Você, então, não faz ideia de que criatura seja?- Falou o rato.
-Não sou deste planeta, sou diferente.
- Sim, é diferente. Mas é deste planeta!
- Sou não!
- Que criatura pode passar pelo fogo, pela água e ainda voar? Quem é forte o suficiente para ganhar de você em uma luta? Além da sua resistência fora do comum?
-ã? - resmungou o dragão surpreso com a perspicácia do amigo rato, que sempre o surpreendia com a sua lucidez..
-Você aprecia, e sabe, como poucos, viver em solidão.Evita sair durante o dia. Tem medo de ser criticado e mal visto.Mas em seu interior sabe o poder que tem.
O rato continuou:
- Além disso, sabe apreciar a beleza e a deseja como ninguém! Só uma coisa é superior à beleza para você: a riqueza! Você tem plena consciência de que por meio dela você obterá tanto a beleza quanto o poder.
-Todo príncipe precisa de uma donzela e de um reino próspero!
-Príncipe?!?Você ainda não percebeu, meu amigo? Você não é príncipe! Você é um dragão!

27 setembro 2012

Maná


Hoje penso que o  bom da vida não é ter o que fazer, mas como  fazer.
Ter o que fazer é inerente à própria vida.
Ou será que alguém imagina que não tem o que fazer?
Mas muito mais que ficar pensando ou buscando respostas sobre o que deveria ou não ser feito, percebo que as pessoas que se sentem felizes, as que aparentemente têm mais energia e estão de bem com vida, são aquelas que vivem um dia de cada vez. No presente.
Realizando as pequenas, grandes, inúmeras ou poucas tarefas que lhe foram confiadas.
Tomei para mim o principal ditado dos AA (Alcoólicos Anônimos): um dia de cada vez.
O foco é aquele único dia. A quantidade de energia, de sono, de ânimo, de tudo o que necessito para aquele dia. Sem, nem por um instante, pensar que haverá um outro dia, ou que já houve muitos que não deram certo.Ou nas infinitas possibilidades que cercam meu destino.
O passado passou. O futuro não me pertence. Tenho apenas o hoje.
A vida me deu bastantes razão para crer que estamos no lugar certo, na hora certa.
E quando não for mais a hora de eu estar aqui, ou de estar realizando determinada tarefa, o Universo se incumbirá de fazer a mudança. E Ele faz!
Sem alvoroço, ansiedade ou atrasos. Na hora exata.
Desse modo a minha preocupação deixa de ser com "O quê eu vou fazer?" e passa a ser: em "Como vou fazer?".
Como aprimorar meu trabalho. A qualidade do que faço. Meus estudos. Minhas leituras. A música que ouço. Aquilo que como e de que forma eu como. Meus relacionamentos,sejam eles quais forem.
Posso ter uma rotina medíocre e achar que minha capacidade vai muito além. Tenho certeza que sim - nossas vidas são medíocres e nossa capacidade ilimitada- Mas não vamos nos preocupar com isso agora.
Apenas faça aquilo que lhe compete fazer neste exato momento da sua vida.
É um trabalho de estar desperto. De pôr atenção neste meu dia. Pois é o único que tenho.
Amanhã recomeço. Tudo de novo.
Um dia de cada vez.
Às vezes, quando o cansaço ou o esgotamento físico ou emocional é muito grande esse é o único modo de continuar vivendo. E, de repente, descobrimos que é o melhor modo. Coisa que pessoas muito simples e sem grandes oportunidades já descobriram faz tempo.

Complicada


Penso que sou complicada.
E alguém me disse mesmo que sou.
Achei que era ruim ser assim.
Quase como que um defeito de nascença,
uma deficiência ou esquizofrenia.
Depois pensei melhor.
Olhei no dicionário, está lá:
"Complicado = adj.; composto de grande número de peças; complexo; trabalhoso"
Desconfio de quem é muito plano.
De quem finge que não têm neuras, medos, complexos. Aliás, de quem finge!
Aquilo que é trabalhoso é o que dá dignidade e não o que é fácil.
Se debruçar sobre a alma de alguém.Tentar entender sua magnitude é um ato de amor.
Sair de nós mesmos para, por um minuto, ser o filho, a mãe, o marido.
E compreender a beleza que habita naquela criatura complexa.
Meio doida, meio santa, muito humana.
O raso é o raso. Só.
O máximo que se consegue é encher um pouco com a chuva e secar no calor.

Quantos são os nomes de Deus? 72!
Sim, 72 faces de um mesmo Ser.
Um ser que está na chuva, no ar e no fogo. No início, no meio e no fim.
No exército e na paz, no pão, nas estrelas e na areia do deserto.
É complexo? Complicado?
Pois é...

26 setembro 2012

Doçura

UMA ÚNICA PALAVRA:
Inesquecível.


A tempestade que havia em mim passou.
Os vendavais, ondas revoltas e tudo o mais foi-se embora.
O que ficou?
Não, não foi a paz.
E sim um vazio imenso.
À espera de uma nova razão
Que mais uma vez tire tudo do lugar.
E reorganize de modo belo e desordeiro
O que sou incapaz de fazer sozinha.

25 setembro 2012

Das esperanças...


O que seria de mim se não fosse a espera?
Ela é quase que uma segunda pele, uma segunda natureza.
Que anda junto ao desespero, à urgência.
Um desespero que sempre sabe que terá que passar pelo purgatório da sala-de-espera.
Ou mais uma fila ou sabe-se lá o quê! Mas haverá!
No meio do caminho sempre haverá uma pedra.
Somos viajantes em um mundo em que não há estradas retas ou planas.
Há que se esperar o mau tempo passar. A boiada. As crianças saindo da escola.
Eu espero na urgência que sinto em prosseguir.
No gosto pela inércia dos fatos conhecidos.
Pelo desejo de mudar sem mudar.
De esperar sem desesperar.
De esperança em esperança, finjo que sobrevivo.
Finjo que tenho calma, que sou um poço de paz.
Apenas finjo...
Quem sabe assim o esperar se torna mais breve?

17 setembro 2012

Só se for agora


"Se você ama, diga que ama. Diga o seu conforto por saber que aquela vida e a sua vida se olham amorosamente e têm um lugar de encontro. Diga a sua gratidão. O seu contentamento. A festa que acontece em você toda vez que lembra que o outro existe. E se for muito difícil dizer com palavras, diga de outras maneiras que também possam ser ouvidas. Prepare surpresas. Borde delicadezas no tecido às vezes áspero das horas. Reinaugure gestos de companheirismo. Mas, não deixe para depois. Depois é um tempo sempre duvidoso. Depois é distante daqui. Depois é sei lá."

08 agosto 2012

Purificação



Eu sou a Transformação.
Ardo! Dôo!
Mas sei Florescer como ninguém.

28 julho 2012

?


Fico pensando se existe mérito nesta terra...

27 julho 2012

Reflexões sobre o amor


Será o amor  algo que tira o sono,
atordoa, faz perder o apetite
e a viver sempre com o coração na boca?

Será algo que nos saca o senso de realidade,
de levantar todo dia para trabalhar,
de reparar nas outras pessoas,
de querer se divertir com a família e amigos?

Se nos colocamos em primeiro plano:
Nossos sonhos, buscas e aspirações
Isso não é o amor, é o ego
Se somos dominados pelos ciúmes
Ou pelo desespero de querer manter
o objeto da nossa devoção ao nosso lado,
isso é posse
Se só vemos aquela pessoa
Só pensamos nela,
Isso é obsessão!

Penso que se fala muito sobre o amor.
Porém poucos o conhecem.
Falo isso também por mim
Pois me pego descobrindo que não o conhecia
Conheci paixões
Porém, amor não.

Amor vem quando não o buscamos
É presente dos céus
Se apresenta quando bem deseja 
E quando não o buscamos
E muito menos quando escolhemos

Tem vontade própria
Mas não nos tira do chão
Não é nenhuma droga alucinógena
Pelo contrário
Dá-nos e senso exato de nós mesmos
É luz em estado puro
E nos mostra de forma crua
Nossos medos, fraquezas e imperfeições

Faz com que desejemos ser melhores em tudo:
melhores mães, pais, filhos, esposas, companheiros
É um senso de responsabilidade imenso
Queremos ter saúde
respeito, honra
O amor é digno disso!



24 julho 2012

Reencontro



Dizem que os acontecimentos da vida são como as águas de um rio: nunca voltam. Eu cá tenho as minhas dúvidas.


A terra é redonda, por isso acredito que essa água pode voltar a passar pelo mesmo rio 2, 3, infinitas vezes. Em suas muitas formas de ser: água de chuva, vapor, água salgada, granizo, gelo... Ela voltará diferente, sem dúvida, e o rio também já não será mais o mesmo. Porém, mais dia menos dias se encontrarão. Todos fazemos parte de uma mesma trama, uma mesma colcha tecida por mãos sábias e oniscientes.


O que sinto é que a vida se dá, não em forma de círculos exatos que se sobrepõem. Como na escola: terminamos uma séria e logo outra se inicia. Mas nos esquecemos de que essas etapas são apenas ferramentas de organização da aprendizagem, como na vida. A cada etapa o grau de  dificuldade aumenta, afinal, estamos mais preparados. A vida irá nos testar em cada ponto. Afinal, só se pode seguir adiante, após ter aprendido bem aquela lição. Pois será a partir dela que iremos construir o próximo degrau. Aí temos mais claro o formado da vida, sua radiografia: uma bela escada em forma de espiral!


A alegria de ver a vida como espirais é que quando menos esperamos coisas, fatos ou pessoas que tínhamos como perdidos podem voltar! E como é bom sentir um perfume conhecido, uma voz conhecida, um sabor que pensávamos que jamais sentiríamos. E o que dizer, então, dos olhos de um amigo que marcou uma época, que nos acolhia com a sua presença, para quem eu era sempre uma boa surpresa no meio do caminho? Não dá para explicar! O reencontro fica com cara de milagre, de um presente!


Claro que como as águas do rio já não somos mais os mesmos, estamos transformados, moldados por tudo o que vivemos. Mas na essência somos as mesmas pessoas, o mesmo tom de voz, o mesmo perfume da pele, o mesmo modo de tocar e de olhar.


São situações raras, que deixa um rastro de magia, de presente que ressurge e que nos faz ter certeza de que o tempo não existe.Só o que existe é o contato, o estar com o outro. Estar em toda plenitude do termo. Quando nos esvaziamos de nós mesmos, baixamos a guarda e permitimos ser parte e não possuidores.

26 novembro 2011

O rio que não é da minha aldeia...


Tudo é relativo. À primeira vista pode parecer pequeno.
Olhe de novo.
Ou melhor, entre.
Há profundidade suficente para se envolver.
Sem abismos ocultos para devorar.
Pode-se tocar e sentir o chão.
Além disso os raios de luz lhe banham
Por toda pequena extensão.
É límpido, reluzente!
Casa de seres coloridos:
Sereias, plantas que brilham.
Peixes, por que não?
Tem todas as cores quentes de um dia de verão.
Acolhe, acalenta, lava.
Estava no meu caminho de viajante cansado.
À margem da mão esquerda ou direita? Não sei.
Linha da vida.
De uma coisa tenho certeza:
É presente divino embrulhado em forma de água.
Direto das alturas a esse vale de secas lágrimas.

10 outubro 2011

22 de Julho de 2011


Nunca pensei um dia chegar

E te ouvir dizer:
Não é por mal
Mas vou te fazer chorar
Hoje vou te fazer chorar
Não tenho muito tempo
Tenho medo de ser um só
Tenho medo de ser só um
Alguém pra se lembrar
Alguém pra se lembrar
Alguém pra se lembrar
Faz um tempo eu quis
Fazer uma canção
Pra você viver mais
Faz um tempo que eu quis
Fazer uma canção
Pra você viver mais
Deixei que tudo desaparecesse
E perto do fim
Não pude mais encontrar
O amor ainda estava lá
O amor ainda estava lá

09 outubro 2011

Latência


Queres mesmo saber, vou persistir!
Suportar tempestades, vou ficar...
Quando o sol me bater, vou responder.
respirar todo o ar que conquistar.
Vou fazer meu calor me levantar.
E seguir por aí e procurar
Cultivar o melhor que aparecer.
Se doer, esperar a dor passar.
Nunca mais desarmar o meu amor.
Nem armar de morrer, nem me matar.


Altair de Oliveira

13 setembro 2011

Complicada de tão simples


É fácil falar dos outros. E como é difícil falar de nós de mesmos!


Saí de casa muito cedo. Dizem os psicólogos que o verdadeiro processo de individualização só se dá após os 21 anos. Até aí somos sombras das nossas famílias, amigos, namorado...Então quando saí ainda não era um indivíduo? O que eu era? O que eu sou? Por que se preocupam tanto? Será que sou a vítima ou o algoz? Será que quem cala consente, ou quem cala quer paz? A Bíblia diz que “o justo não se justifica”, assim sigo! Mas segundo o mundo prevalece o “quem cala consente”...Assim, as muitas vozes criam e recriam um personagem fantástico. Superinteressante, digno de novela. Tem traições, falcatruas, morte, psicoses...um enredo muito bem recheado de tudo que as pessoas mais amam. E assim a trama cresce. Enquanto o personagem principal permanece alheio a tudo isso.

Apenas sonhando. A pobre Alice não está aqui, meu amigos. Ainda não perceberam? Ela e seu coelho branco têm um mundo a desbravar. Um mundo que não é desse mundo. Um mundo onde só há lugar para o trabalho, o conserto, a arrumação, o cuidado de si e dos outros. Quem sabe nossa Alice tem TOC? É obsessiva por correr de um lado para o outro em busca de uma xícara de chá quente ou de eliminar as ervas daninhas do jardim da Rainha de Copas. Sim ela é fiel à Rainha. Fiel ao seu coração.

Como um quebra-cabeça, a família tenta juntar as peças. Um fala uma coisa, outro diz outra, um aumenta, outro acrescenta, outro despeja o pote de fermento...Faltam peças, sobram lacunas...Começam a desconfiar que esse quebra-cabeça está com defeito. E agora, o que fazer com ele?

É problema de quem? A quem pertence a “mala”? Vamos cobrar do pai.

O pai se cobra. A mãe se cobra. Onde erramos? Será que negligenciamos, ficamos tão distantes e não cuidamos para que alguma peça se perdesse?

O problema é que não tem problema algum! Apenas que é difícil amar alguém que não conhecemos. Muito menos confiar nesse alguém. Descobre-se que a filha é um personagem desconhecido. Ela entrou no meio da trama. Ela não faz parte de nenhum núcleo da novela. Ela não é um quebra-cabeça, é apenas uma peça que se perdeu de um outro quebra-cabeça e veio parar na caixa errada. Como brinquedo, ela também não tem consciência de qual das inúmeras caixas pertence. Segue confiante que Alguém Que Tudo Sabe a colocará de volta onde deveria estar. Enquanto isso segue trabalhando e dando trabalho a quem insiste em explicar o que não tem explicação. Apenas se existe, se vive, está ali, mas não faz parte do jogo.

Tudo se complica ainda mais porque a tal peça perdida não colabora. Ela é autista de nascença. Gosta de ficar no seu mundo. E qual será o seu mundo? É um mundo onde cabem bem poucas pessoas, mas muitos sonhos e projetos. Ela passa a maior parte do tempo trabalhando, enroscada em si mesma, nos emaranhados da sua mente e dos seus afazeres. Com toda certeza nunca pára para relaxar, usufruir a vida. Não aprendeu. Ou quem sabe relaxa e usufrui colocando em prática seus sonhos? Descansa quando dorme. Jamais quando liga a TV. Não sabe sentar. Não sabe ficar na calçada ou no portão vendo o movimento. Não faz crochê, nem para si, nem da vida alheia. Dorme. Descansa, sonha.

Admira as rosas do jardim da Rainha. Sorri satisfeita, pois sabe que cuida do que lhe foi confiado. Também chora, pois sabe da sua situação de objeto perdido, lançado para longe da sua caixa. Tem síndrome de patinho feio. Só que é um patinho perdido entre cisnes perfeitos.É a ovelha negra do momento. A louca da casa! Entre outros adjetivos semelhantes.

Enquanto fica deitada esperando o Morfeu chegar, lembra da filha, dos pais, da filha de novo, da ex-família, deseja que todos sejam felizes. Pede a Deus por eles. Pede a Deus por si, que a deixem em paz. Pede também que a torne invisível ou quem sabe, que crie nela superpoderes, que a faça imune aos ataques. E não uma simples peça frágil de papel.

Pede que errem o alvo, pois se continuar assim, não poderá mais se encaixar no seu quebra-cabeça de origem, se é que ele existe em algum lugar!

É clara. É transparente. O que faz é o que é. Complicado entender alguém que é tão simples!

31 agosto 2011

Canteiros, Fagner





Quando penso em você
Fecho os olhos de saudade
Tenho tido muita coisa
Menos a felicidade
Correm os meus dedos longos
Em versos tristes que invento
Nem aquilo a que me entrego
Já me dá contentamento
Pode ser até manhã
Sendo claro, feito o dia
Mas nada do que me dizem me faz sentir alegria
Eu só queria ter do mato
Um gosto de framboesa
Pra correr entre os canteiros
E esconder minha tristeza
E eu ainda sou bem moço pra tanta tristeza ...
E deixemos de coisa, cuidemos da vida
Pois se não chega a morte
Ou coisa parecida
E nos arrasta moço
Sem ter visto a vida
É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um caco de vidro, é a vida, é o sol
É a noite, é a morte, é um laço, é o anzol
São as águas de março fechando o verão
É promessa de vida em nosso coração.

17 agosto 2011

O vestido


Este é o meu vestido de festa!
Tem as alças de pérolas
E um laço de cetim.
Tem as cores de todos os verões passados
Laranjas, Amarelos, tem Vermelhos.
Quando eu rodo,
Transparecem outras cores,
Tons de outonos e invernos.
É enviesado de amor.
Tem dobras de luz.
E pregas de raios de sol.
Tem também forro de neblina
E bainha de frio.
Ele não é curto
Nem é comprido demais.
Deixa-se ver bem a graça
Com que os anos me moldaram.
Eu o desfilo como faz uma menina de 7 anos
E me sento como faz uma grande dama.
Cruzo as pernas
Balanço os pés...
Coloco as mãos dobradas sobre o colo.
Volta e meia,
Ajeito as pérolas que insistem em cair num dos ombros.
Verifico o laço,
Está perfeito!
O único problema do meu vestido é o decote:
Tenho o peito vazio.

30 julho 2011

Cafeomancia



O café cheirava longe. Eu sabia que era o perfume exato do que eu queria. Nem mais forte, nem mais fraco. Segurei a xícara com as duas mãos para sentir o calor, também para que não caísse. Cada gole era como se fosse o primeiro. Olhei para ele: como você pode fazer isso? Exatamente o ponto exato que me agrada? Ele sorria discreto. Pelo canto do olho me observava completamente obcecada pelo presente entre nas minhas mãos. Tomei tudo. Repeti mais um pouquinho, morrendo de vergonha da minha gulodice.
Depois, olhei para o fundo da xícara vazio. Palavras me vieram à mente. Profecias antigas. A marca da tinta do café circulava o fundo do recipiente. No centro só o vazio. Girava a xícara de um lado para o outro na esperança que alguma gota preenchesse o centro. Não havia mais gota. Olhei nos seus olhos. Ele não entendei nada. Abaixei a cabeça mais uma vez para ver o fundo. Nenhum milagre aconteceu. Meu coração continuava lá acompanhado do mesmo cheiro, manchado com as suas cores, apenas a quentura diminuía. O vazio intacto.

13 março 2011

Sou péssima





"Num ensinamento, o Buda discorre sobre quatro tipos de cavalos: o excelente, o bom, o mau, e o péssimo. Segundo o sutra, o excelente cavalo põe-se em marcha antes mesmo de sentir o comando, basta ver sua sombra ou ouvir um muxoxo do cavaleiro. O bom cavalo se põe em marcha com um leve toque na garupa. O mau cavalo só se põe em marcha quando é fustigado e o péssimo cavalo só se move quando sente a dor nos próprios ossos."

Minha oração é a mesma todos os dias:
"- Senhor, me faça excelente, por favor!"

08 outubro 2010

Eros não habita onde não há beleza

Esse é um antigo ditado grego.
Será Eros tão ingrato e preconceituoso assim?
Ou será que não sabemos o que é beleza?
O que é belo?

O que é vivo.
O que é contrário da morte.
O que flori.
O que sorri.
O que enfeita.
O que transborda generosamente de si para o mundo.

Bonito é quem não faz cena.
Não disfarça seu gênio ruim, seu sangue quente, suas dores
Chora onde tiver que chorar
Explode de prazer ou de dor
É pipoca transbordando da panela
É chá bufando na chaleira
São lábios vermelhos além da conta
Mãos que não param de procurar...

Não, Eros, como todo mundo
Só habita onde há vida, pulsando e intensa.
Pelo menos ele é sincero.
E não aceita viver com alguém que não lhe ofereça nada menos que isso!

30 setembro 2010

Alma limpa

Gosto de correr loucamente pelos campos.
Há sim irregularidades pelo chão, torrões de terra,
poças de lama, moitas de capim.
Eu sigo.
Não, não há nada que me persegue.
Daquilo que eu fujo, mora dentro de mim.
O consolo é ver o suor escorrendo.
Poder sentir o coração acelerado, o vento no rosto
e, quem sabe, a alegria de pingos de chuva a escorrer pelos cabelos.
Corro cegamente sem rumo ou destino que não seja eu mesma.
Simplesmente pela leveza ingênua que a canseira dá.

10 abril 2010

Cubo Mágico

Já ouvi falar muitas vezes que a vida é um jogo.
Daí a importância dos jogos na educação infantil.
Daí o problema na vida dos adultos: por que paramos de jogar quando crescemos?
Jogar pelo ato do prazer,  do estímulo, do gosto pelo desafio, de quebrar a cabeça.
Não é o jogo de azar, mas o jogo onde há metas, percursos, soluções diversas, ou poucas, ou apenas uma!
Não poucas vezes me pego dando voltas em círculos sobre um mesmo assunto, sobre um mesmo problema...
 Esse tal de problema recorrente é um problema de fato! Passa a ser chato demais. Evitamos, fugimos e parece que ele foi costurado à nossa sombra. Colou, não solta mais!
Me lembro da história da mulher esqueleto...
O pescador solitário foi pescar. Faminto, não pegou nada e, ao invéns disso, um esqueleto se enroscou em sua rede..Ele corria para sua cabana e o esqueleto corria com ele. Ele se enfiou na cama, o esqueleto junto. Cobriu-se e o esqueleto lá! Ele tremia de pavor! E agora? O que eu faço?
Se debateu. Enroscou-se mais! Chorou, mas chorou muito...e nada.!
Até que cansou...Descansou.
Deixou-se cair ao lado do esqueleto. No seu cansaço, apoiou a cabeça nos ombros do esqueleto. Encostou seu coração no peito de ossos, seus pés tocaram os pés gelados do que um dia foi uma pessoa. Não sentia mais. Não era mais gelado nem repugnante. Não tinha pavor, nem nojo, nem nada...
Um dia, Baal Shen Tov encontrou um lavrador cuidando da sua terra. Todas as terras ao redor estavam lindas e prósperas, menos a daquele homem. Ele lavrava  a terra cuidadosamente, limpava cada semente e colocava uma a uma no solo, como se fosse a um filho amado para dormir...
O esgotamento era visível em seu rosto, mas ele persistia... e nada. Nada crescia naquela terra.
O mestre lhe falou com doçura: vá para casa descansar, que eu cuido de tudo! O agricultou depois de muita resistência concordou, já desmaiando de sono. Baal Shen Tov subiu em sua carroça e voltou para sua cidade. Dias depois o agricultor acordou e sua plantação era  a mais linda do vale.
  O pescador acordou, e ao seu lado, na cama quentinha, uma linda mulher  pôs fim a sua vida de solidão...
   Difícil fugir do jogo do Cubo Mágico, viro para cá, viro para lá. Azul com a azul, consegui! Amarelo com amarelo também! Mas faltam os lados verde,  vermelho...já cheguei a pensar em descolar os quadradinhos e colar no lugar certo só para ter o gosto de ver todos os lados prontos! Não, ainda não fiz isso.
  Na vida de gente grande temos que aprender a encontrar saídas, por mais difícil que pareça, Ter jogo de cintura, visão, estratégia... Qualidades de um bom jogador. Saber que nem sempre iremos conseguir resolver a questão do modo como estamos acostumados. Há infinitos jogos! E,  infinitas regras!
  Mas é na hora que relaxamos, que encaramos como uma brincadeira gostosa, um desafio para ser vencido e saboareado, a vida fica realmente boa de ser vivida. Deixa de ser um fardo.
Confesso que para mim não é fácil, me policio o tempo todo, tentando fazer desse meu tempo aqui o mais gostoso e útil possível. Talvez por isso necessito de crianças perto de mim. Elas me ensinam a ser leve. A brincar de novo, a encontrar graça e caminhos diversos em cada desafio.
Ainda completarei meu cubo mágico. Terei minhas terras prósperas. E não dormirei mais enroscada no medo!

27 março 2010

Quero distância!

Da vida, quero distâncias!
Distâncias de tudo o que não me tragam alegria.
Distâncias que me conduzam a lugares lindos
lugares sonhados,
de histórias que nunca ouvi.
Distâncias de pessoas que se distanciam
umas das outras
que se afastam, não querem saber!
Distância dos que são distantes
dos que não olham ao redor,
Dos que só sentem o mundo à distância.
Autistas que fingem viver no mundo
E ainda não comprenderam que a pior distância
não é física, mas a da consciência.

11 outubro 2009





Empurro as abas da janela com força
Abro o peito, os pulmões
Na ânsia louca de experimentar as boas e velhas novas trazidas pelo vento
Sentir o hálito de lugares distantes, nunca pisados, mas imensamente conhecidos
Ouvir a música das vozes de outrora, o balbúrdio da hora do almoço, a conversa no portão...

A brisa acaricia de leve meus cabelos sobre os ombros, 
empurra de leve  alça do vestido
Corro para a porta
Abro com esperança,
um esperança que não conhece começo nem fim, só largueza

Saudades de um tempo de riso fácil
De alegria que não sabia de si mesma
De um lugar que se perdeu na neblina da manhã
Mas que volta e meia o vento insiste em trazer

28 maio 2009

Senhor Ventania





Chegue calmo ou apressado
Forte, sorrateiro ou avisado
Como quiseres...
Soubambu, esse é o meu nome
Me dobro!
Reverenciar-te é o meu destino
Espero-te todos os dias,
Mensagens assoviadas,
Assopradas entre os meus cabelos,
soltos ramos, brilhando sob o sol.
Soubambu, amiga da luz,
da chuva, do sol.
Mas sou esposa do Vento,
Com quem me deito nas tardes mornas,
e me desfolho nas noites tempestuosas.

11 maio 2009

Alumbramento




Meus olhos estavam confusos diante daquela luz.

Será que já havia dormido tanto e não havia me dado conta? Era dia? Cadê os bem-te-vis?

E a alegria dos cachorros me acordando para terminarem de dormir mais um pouquinho comigo?

Não, não era a claridade da manhã. Mas também não parecia em nada com a de uma lâmpada.


Fiquei assim, corpo prostrado sobre o colchão, sentindo o conforto dos lençóis.

Me faltava a disposição para saber de onde vinha tanta luz.

O aconchego era maior que a curiosidade.


Meus olhos tornaram-se pesados. Voltei a dormir.

09 maio 2009

Socorro!



Grito às árvores por socorro,

por uma resposta, um alívio.

Elas só me respondem com sussurros,

com o farfalhar tagarelante entre elas.


Viro as costas desolada!

Só folhas em branco...

Olho o céu,a chuva, observo o vento...

Nada!


Em nenhum deles as palavras que desejo ouvir,

a voz que anseio escutar

ou os olhos que acalentavam meu coração.


Tudo se tornou estranho,

o dia se fez noite.

E nem a lua veio ao meu encontro.

21 abril 2009

Poesia



"Uma poesia
não é feita com palavras.
A poesia já existe.
A gente só põe as palavras em
volta para ela aparecer
- como as bandagens do
homem invisível, lembra?"