Lendo um artigo da monja Coen sobre o porquê de ela ter escolhido o Zen
Budismo como prática religiosa, ela respondeu: “porque era melhor do que qualquer doce, que qualquer carinho, melhor do que qualquer coisa.”
Achei simplesmente perfeita a resposta. Como explicar o que acontece
quando comemos um chocolate delicioso ou quando recebemos um carinho
maravilhoso e, melhor, que vem de surpresa, sorrateiro e manso? Que começa
lento, acariciando o ombro, a alça do soutian, sobe pelo queixo e se demora nos
lábios?
É muito difícil explicar certas coisas. E queremos sempre explicar.
Nossa tradição Ocidental baseada na lógica necessita de respostas. Por que é
tão difícil entender que muito antes que o cérebro perceba qualquer coisa, quem
faz a escolha é o coração? Não é uma visão romântica. Muito pelo contrário. É
física, é visceral, intuitiva, espontânea. Na tradição Budista, se você sente,
isso basta para ser verdade. Não a verdade do mundo, mas a sua própria. Por
isso há tanto silêncio, não há ninguém querendo provar que sua nova teoria está
certa e a de seu irmão errada.
E como é difícil para nós essa briga entre o querer racional e o
intuitivo! Como se não pudéssemos querer o que realmente queremos. Como se
fosse uma falha muito grave não ter domínio sobre tudo. Colocamo-nos cercas
elétricas, muros, coletes à prova de bala de abraços e de beijos. Assim o ‘mal’
não entra.
E o ‘mal’ já está dentro de nós. Não percebemos que ele não vem de fora,
como dizia Jesus: O que contamina o homem não é o que vem de fora e sim o que
vem de dentro. São nossos preconceitos, nossos medos e a insegurança de
confrontar com algo que é maior que nós, porque está na esfera dos sentidos e é
melhor que doce...
Esquecemos que aquilo que negamos, prevalece. Aquilo que tentamos
sufocar, cresce e ganha força. É uma lógica do Universo. Não tem nada a ver com
castigo de Deus ou com o livre-arbítrio, pois está ligado às próprias regras do
Cosmos. É lei, acima do bem e do mal.
"Existe o pensar, existe o não pensar; e existe o
além do pensar e do não pensar."* É justamente aí que mora a felicidade, a
alegria fugaz de ser pega de surpresa num momento de carinho, do afago sincero
e urgente que ultrapassa todos os planos e o megadestino que traçamos para nós
mesmos, porém que nunca se realizará porque carece de algo concreto, mas
extremamente sutil, carece de verdade. O corpo nunca mente. O cérebro nunca diz
a verdade.
*Monja
Coen