23 abril 2014

Porque faz bem às vistas e ao coração












Des-agregando certos vícios


   Se na música, decoração, vestuário há modismos, isso também acontece com a linguagem. Não é porque existem regras que intencionam  a normatização e a uniformidade de um idioma, que não aparecerão neologismos, ou novas formas de dizer velhas coisas  e expressar sentimentos. Isso é natural e faz parte da capacidade criativa humana, e de tudo o que está vivo em constante movimento. Neste quesito, porém, podemos afirmar que os brasileiros são geniais, pois a infinidade de novas construções e vocábulos que aparecem diariamente é impossível de dimensionar.
  Criatividade à parte. O caso aqui discutido é justamente o contrário: a falta dela. Volta e meia resolve-se desenterrar uma palavra em desuso ou ‘importar’ algum termo de alguma área específica e utilizá-lo indiscriminadamente. (Quem já ouviu a entrevista do “rei do camarote” sabe bem do que estou falando)
   Como tivemos a moda das ombreiras enormes, da lambada, dos cabelos black powers e chapados, já tivemos também a moda da palavra “prazerosa” para exprimir algo realizado com êxito. Da expressão “com certeza” para substituir o simples “sim”. O gerundismo indiscriminado que floresceu com o advento do telemarketing e está difícil de ir embora!
 “Vamos combinar”, todo mundo gosta e faz uso de modismos. Contudo, há que se ficar atento ao exagero. Nosso vocabulário é riquíssimo em sinônimos e muitas vezes nos esquecemos disso. Outro ponto a que devemos dedicar atenção é se aquela palavra realmente pertence àquele contexto. “A nível de” riqueza vocabular não estamos “agregando nenhum valor” “através” de expressões que dizem sem dizer, ou seja, parecem bonitas na retórica, mas cujos significados ou estão distorcidos ou são totalmente vazios.

Não pretendo apregoar nenhuma verdade, muito menos carregar bandeira, “fardo muito pesado para mulher”(não poderia deixar de citar minha poeta preferida Adélia Prado). No entanto, como profissional da área, sinto-me na obrigação de alertar com relação ao uso exagerado de alguns termos, principalmente nos registros formais. Uma vez que esses são documentos históricos e que perpetuarão nosso estilo – ou pior, a falta dele.