26 novembro 2011

O rio que não é da minha aldeia...


Tudo é relativo. À primeira vista pode parecer pequeno.
Olhe de novo.
Ou melhor, entre.
Há profundidade suficente para se envolver.
Sem abismos ocultos para devorar.
Pode-se tocar e sentir o chão.
Além disso os raios de luz lhe banham
Por toda pequena extensão.
É límpido, reluzente!
Casa de seres coloridos:
Sereias, plantas que brilham.
Peixes, por que não?
Tem todas as cores quentes de um dia de verão.
Acolhe, acalenta, lava.
Estava no meu caminho de viajante cansado.
À margem da mão esquerda ou direita? Não sei.
Linha da vida.
De uma coisa tenho certeza:
É presente divino embrulhado em forma de água.
Direto das alturas a esse vale de secas lágrimas.

10 outubro 2011

22 de Julho de 2011


Nunca pensei um dia chegar

E te ouvir dizer:
Não é por mal
Mas vou te fazer chorar
Hoje vou te fazer chorar
Não tenho muito tempo
Tenho medo de ser um só
Tenho medo de ser só um
Alguém pra se lembrar
Alguém pra se lembrar
Alguém pra se lembrar
Faz um tempo eu quis
Fazer uma canção
Pra você viver mais
Faz um tempo que eu quis
Fazer uma canção
Pra você viver mais
Deixei que tudo desaparecesse
E perto do fim
Não pude mais encontrar
O amor ainda estava lá
O amor ainda estava lá

09 outubro 2011

Latência


Queres mesmo saber, vou persistir!
Suportar tempestades, vou ficar...
Quando o sol me bater, vou responder.
respirar todo o ar que conquistar.
Vou fazer meu calor me levantar.
E seguir por aí e procurar
Cultivar o melhor que aparecer.
Se doer, esperar a dor passar.
Nunca mais desarmar o meu amor.
Nem armar de morrer, nem me matar.


Altair de Oliveira

13 setembro 2011

Complicada de tão simples


É fácil falar dos outros. E como é difícil falar de nós de mesmos!


Saí de casa muito cedo. Dizem os psicólogos que o verdadeiro processo de individualização só se dá após os 21 anos. Até aí somos sombras das nossas famílias, amigos, namorado...Então quando saí ainda não era um indivíduo? O que eu era? O que eu sou? Por que se preocupam tanto? Será que sou a vítima ou o algoz? Será que quem cala consente, ou quem cala quer paz? A Bíblia diz que “o justo não se justifica”, assim sigo! Mas segundo o mundo prevalece o “quem cala consente”...Assim, as muitas vozes criam e recriam um personagem fantástico. Superinteressante, digno de novela. Tem traições, falcatruas, morte, psicoses...um enredo muito bem recheado de tudo que as pessoas mais amam. E assim a trama cresce. Enquanto o personagem principal permanece alheio a tudo isso.

Apenas sonhando. A pobre Alice não está aqui, meu amigos. Ainda não perceberam? Ela e seu coelho branco têm um mundo a desbravar. Um mundo que não é desse mundo. Um mundo onde só há lugar para o trabalho, o conserto, a arrumação, o cuidado de si e dos outros. Quem sabe nossa Alice tem TOC? É obsessiva por correr de um lado para o outro em busca de uma xícara de chá quente ou de eliminar as ervas daninhas do jardim da Rainha de Copas. Sim ela é fiel à Rainha. Fiel ao seu coração.

Como um quebra-cabeça, a família tenta juntar as peças. Um fala uma coisa, outro diz outra, um aumenta, outro acrescenta, outro despeja o pote de fermento...Faltam peças, sobram lacunas...Começam a desconfiar que esse quebra-cabeça está com defeito. E agora, o que fazer com ele?

É problema de quem? A quem pertence a “mala”? Vamos cobrar do pai.

O pai se cobra. A mãe se cobra. Onde erramos? Será que negligenciamos, ficamos tão distantes e não cuidamos para que alguma peça se perdesse?

O problema é que não tem problema algum! Apenas que é difícil amar alguém que não conhecemos. Muito menos confiar nesse alguém. Descobre-se que a filha é um personagem desconhecido. Ela entrou no meio da trama. Ela não faz parte de nenhum núcleo da novela. Ela não é um quebra-cabeça, é apenas uma peça que se perdeu de um outro quebra-cabeça e veio parar na caixa errada. Como brinquedo, ela também não tem consciência de qual das inúmeras caixas pertence. Segue confiante que Alguém Que Tudo Sabe a colocará de volta onde deveria estar. Enquanto isso segue trabalhando e dando trabalho a quem insiste em explicar o que não tem explicação. Apenas se existe, se vive, está ali, mas não faz parte do jogo.

Tudo se complica ainda mais porque a tal peça perdida não colabora. Ela é autista de nascença. Gosta de ficar no seu mundo. E qual será o seu mundo? É um mundo onde cabem bem poucas pessoas, mas muitos sonhos e projetos. Ela passa a maior parte do tempo trabalhando, enroscada em si mesma, nos emaranhados da sua mente e dos seus afazeres. Com toda certeza nunca pára para relaxar, usufruir a vida. Não aprendeu. Ou quem sabe relaxa e usufrui colocando em prática seus sonhos? Descansa quando dorme. Jamais quando liga a TV. Não sabe sentar. Não sabe ficar na calçada ou no portão vendo o movimento. Não faz crochê, nem para si, nem da vida alheia. Dorme. Descansa, sonha.

Admira as rosas do jardim da Rainha. Sorri satisfeita, pois sabe que cuida do que lhe foi confiado. Também chora, pois sabe da sua situação de objeto perdido, lançado para longe da sua caixa. Tem síndrome de patinho feio. Só que é um patinho perdido entre cisnes perfeitos.É a ovelha negra do momento. A louca da casa! Entre outros adjetivos semelhantes.

Enquanto fica deitada esperando o Morfeu chegar, lembra da filha, dos pais, da filha de novo, da ex-família, deseja que todos sejam felizes. Pede a Deus por eles. Pede a Deus por si, que a deixem em paz. Pede também que a torne invisível ou quem sabe, que crie nela superpoderes, que a faça imune aos ataques. E não uma simples peça frágil de papel.

Pede que errem o alvo, pois se continuar assim, não poderá mais se encaixar no seu quebra-cabeça de origem, se é que ele existe em algum lugar!

É clara. É transparente. O que faz é o que é. Complicado entender alguém que é tão simples!

31 agosto 2011

Canteiros, Fagner





Quando penso em você
Fecho os olhos de saudade
Tenho tido muita coisa
Menos a felicidade
Correm os meus dedos longos
Em versos tristes que invento
Nem aquilo a que me entrego
Já me dá contentamento
Pode ser até manhã
Sendo claro, feito o dia
Mas nada do que me dizem me faz sentir alegria
Eu só queria ter do mato
Um gosto de framboesa
Pra correr entre os canteiros
E esconder minha tristeza
E eu ainda sou bem moço pra tanta tristeza ...
E deixemos de coisa, cuidemos da vida
Pois se não chega a morte
Ou coisa parecida
E nos arrasta moço
Sem ter visto a vida
É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um caco de vidro, é a vida, é o sol
É a noite, é a morte, é um laço, é o anzol
São as águas de março fechando o verão
É promessa de vida em nosso coração.

17 agosto 2011

O vestido


Este é o meu vestido de festa!
Tem as alças de pérolas
E um laço de cetim.
Tem as cores de todos os verões passados
Laranjas, Amarelos, tem Vermelhos.
Quando eu rodo,
Transparecem outras cores,
Tons de outonos e invernos.
É enviesado de amor.
Tem dobras de luz.
E pregas de raios de sol.
Tem também forro de neblina
E bainha de frio.
Ele não é curto
Nem é comprido demais.
Deixa-se ver bem a graça
Com que os anos me moldaram.
Eu o desfilo como faz uma menina de 7 anos
E me sento como faz uma grande dama.
Cruzo as pernas
Balanço os pés...
Coloco as mãos dobradas sobre o colo.
Volta e meia,
Ajeito as pérolas que insistem em cair num dos ombros.
Verifico o laço,
Está perfeito!
O único problema do meu vestido é o decote:
Tenho o peito vazio.

30 julho 2011

Cafeomancia



O café cheirava longe. Eu sabia que era o perfume exato do que eu queria. Nem mais forte, nem mais fraco. Segurei a xícara com as duas mãos para sentir o calor, também para que não caísse. Cada gole era como se fosse o primeiro. Olhei para ele: como você pode fazer isso? Exatamente o ponto exato que me agrada? Ele sorria discreto. Pelo canto do olho me observava completamente obcecada pelo presente entre nas minhas mãos. Tomei tudo. Repeti mais um pouquinho, morrendo de vergonha da minha gulodice.
Depois, olhei para o fundo da xícara vazio. Palavras me vieram à mente. Profecias antigas. A marca da tinta do café circulava o fundo do recipiente. No centro só o vazio. Girava a xícara de um lado para o outro na esperança que alguma gota preenchesse o centro. Não havia mais gota. Olhei nos seus olhos. Ele não entendei nada. Abaixei a cabeça mais uma vez para ver o fundo. Nenhum milagre aconteceu. Meu coração continuava lá acompanhado do mesmo cheiro, manchado com as suas cores, apenas a quentura diminuía. O vazio intacto.

13 março 2011

Sou péssima





"Num ensinamento, o Buda discorre sobre quatro tipos de cavalos: o excelente, o bom, o mau, e o péssimo. Segundo o sutra, o excelente cavalo põe-se em marcha antes mesmo de sentir o comando, basta ver sua sombra ou ouvir um muxoxo do cavaleiro. O bom cavalo se põe em marcha com um leve toque na garupa. O mau cavalo só se põe em marcha quando é fustigado e o péssimo cavalo só se move quando sente a dor nos próprios ossos."

Minha oração é a mesma todos os dias:
"- Senhor, me faça excelente, por favor!"