30 novembro 2012

Nada


Aprendi a não confiar em quem nunca foi ao inferno.
De quem nunca dormiu com a morte
Nunca beijou a  terra nua
E nunca olhou nos olhos da miséria humana.
De quem nunca foi grama e nunca sentiu o peso do mundo sobre si
De quem nunca se sentiu coisa inanimada, inexistente aos olhos dos bonitos do mundo.
De quem nunca se sentiu invisível, sem importância, sem luz ou brilho.
Apagado, sem som, esquecido.

Uma pedra sabe muito do mundo.
Ali no silêncio e no vazio de si mesma
Toda sabedoria repousa.


21 outubro 2012

O fogo


Meu avô cortava lenha.
Minha avó cuidava do fogo.
Um dia minha avó morreu.
Meu avô cortou a lenha, lavou as mãos e morreu.
Foi exatamente assim.

17 outubro 2012

Transgressores de alma


"Aqueles que se permitem transgressões da alma com certeza são vistos e recebidos pelos outros como estrangeiros. Os que mudam de emprego radicalmente, os que refazem relações amorosas, os que abandonam vícios, os que perdem medos, o que se libertam e os que rompem experimentam a solidão que só pode ser quebrada por outro que conheça essas experiências. A natureza da experiência pode ser totalmente distinta, mas eles se tornarão parceiros enquanto 'forasteiros'."
Nilton Bonder, "A alma imoral"

14 outubro 2012

Daquilo que depende de mim...só de mim


E fico pensando sobre até que ponto sou guiada pela esperança e até que ponto pela ilusão.
E percebo que nem é difícil saber.Basta que eu queira estar desperta. Basta que eu queira vencer as decepções.
É que quando elas se tornam muitas temos a falsa ideia de que não irão acontecer mais. E me esqueço que no Universo quando mais tenho de alguma coisa, mais isso me é dado. E o que tenho que fazer é olhar de frente e entender o por quê de fatos recorrentes, de assuntos que insistem em permanecer em pauta.Coisas que já deveriam ter morrido, desaparecido, virado pó!
A decepção passa  a fazer parte da nossa vida quando tiramos o foco de nós e depositamos no outro.
Quando achamos que o outro vai, no mínimo, fazer a parte dele. Vai ser fiel, leal, honesto...enfim tudo aquilo que não deveríamos esperar ou alimentar em ninguém que não seja em nós mesmos.

Kant nos dá uma pista:

O que eu sei? O que devo fazer? O que devo esperar? No entanto, as respostas para a segunda e terceira perguntas dependem da resposta para a primeira: nosso dever e nosso destino podem ser determinados somente depois de um profundo estudo do conhecimento sobre nós mesmos.

Ou seja, as perguntas, a atenção, o foco, devem estar direcionados a  mim e a ninguém mais: o que eu sei? O que devo fazer? O que posso fazer? Daí o que eu posso esperar! E mesmo assim é apenas uma possibilidade e nunca uma certeza. Pois há outras variantes que interferem no resultado.
Essa espera, resultado daquilo que EU faço, é a verdadeira esperança. Já a espera que vem  do outro, do que o outro pode ou irá fazer ou sentir, isso sim é a mais pura ilusão.

A verdadeira alegria vem quando aquilo que sonhamos, pensamos e achamos sobre nós, caminha junto que nossos atos, com aquilo que fazemos diariamente.É a mesma elegância e êxtase da dança: pensar-ouvir-fazer, tudo simultaneamente. Se der certo, ótimo. Se não, ótimo também!
Esta letra de Ivan Lins, De tudo o que eu sei, ilustra bem isso:

Daquilo que eu sei
Nem tudo me deu clareza
Nem tudo foi permitido
Nem tudo me deu certeza...

Não fechei os olhos
Não tapei os ouvidos
Cheirei, toquei, provei
Ah Eu usei todos os sentidos
Só não lavei as mãos
E é por isso que eu me sinto
Cada vez mais limpo! cada vez mais limpo! Cada vez mais limpo!

Desejo que possamos ter esperança real, palpável, e consequentemente, alegria sincera. Que possamos nos conhecer e só assim, nos aperfeiçoar e saber o que podemos esperar de nós, onde podemos chegar com nosso esforço. Só com o nosso.

12 outubro 2012

O rato e o dragão


Os dois amigos caminhavam lado a lado. O dia terminava e era hora de voltar para a caverna.
- Você, então, não faz ideia de que criatura seja?- Falou o rato.
-Não sou deste planeta, sou diferente.
- Sim, é diferente. Mas é deste planeta!
- Sou não!
- Que criatura pode passar pelo fogo, pela água e ainda voar? Quem é forte o suficiente para ganhar de você em uma luta? Além da sua resistência fora do comum?
-ã? - resmungou o dragão surpreso com a perspicácia do amigo rato, que sempre o surpreendia com a sua lucidez..
-Você aprecia, e sabe, como poucos, viver em solidão.Evita sair durante o dia. Tem medo de ser criticado e mal visto.Mas em seu interior sabe o poder que tem.
O rato continuou:
- Além disso, sabe apreciar a beleza e a deseja como ninguém! Só uma coisa é superior à beleza para você: a riqueza! Você tem plena consciência de que por meio dela você obterá tanto a beleza quanto o poder.
-Todo príncipe precisa de uma donzela e de um reino próspero!
-Príncipe?!?Você ainda não percebeu, meu amigo? Você não é príncipe! Você é um dragão!

27 setembro 2012

Maná


Hoje penso que o  bom da vida não é ter o que fazer, mas como  fazer.
Ter o que fazer é inerente à própria vida.
Ou será que alguém imagina que não tem o que fazer?
Mas muito mais que ficar pensando ou buscando respostas sobre o que deveria ou não ser feito, percebo que as pessoas que se sentem felizes, as que aparentemente têm mais energia e estão de bem com vida, são aquelas que vivem um dia de cada vez. No presente.
Realizando as pequenas, grandes, inúmeras ou poucas tarefas que lhe foram confiadas.
Tomei para mim o principal ditado dos AA (Alcoólicos Anônimos): um dia de cada vez.
O foco é aquele único dia. A quantidade de energia, de sono, de ânimo, de tudo o que necessito para aquele dia. Sem, nem por um instante, pensar que haverá um outro dia, ou que já houve muitos que não deram certo.Ou nas infinitas possibilidades que cercam meu destino.
O passado passou. O futuro não me pertence. Tenho apenas o hoje.
A vida me deu bastantes razão para crer que estamos no lugar certo, na hora certa.
E quando não for mais a hora de eu estar aqui, ou de estar realizando determinada tarefa, o Universo se incumbirá de fazer a mudança. E Ele faz!
Sem alvoroço, ansiedade ou atrasos. Na hora exata.
Desse modo a minha preocupação deixa de ser com "O quê eu vou fazer?" e passa a ser: em "Como vou fazer?".
Como aprimorar meu trabalho. A qualidade do que faço. Meus estudos. Minhas leituras. A música que ouço. Aquilo que como e de que forma eu como. Meus relacionamentos,sejam eles quais forem.
Posso ter uma rotina medíocre e achar que minha capacidade vai muito além. Tenho certeza que sim - nossas vidas são medíocres e nossa capacidade ilimitada- Mas não vamos nos preocupar com isso agora.
Apenas faça aquilo que lhe compete fazer neste exato momento da sua vida.
É um trabalho de estar desperto. De pôr atenção neste meu dia. Pois é o único que tenho.
Amanhã recomeço. Tudo de novo.
Um dia de cada vez.
Às vezes, quando o cansaço ou o esgotamento físico ou emocional é muito grande esse é o único modo de continuar vivendo. E, de repente, descobrimos que é o melhor modo. Coisa que pessoas muito simples e sem grandes oportunidades já descobriram faz tempo.

Complicada


Penso que sou complicada.
E alguém me disse mesmo que sou.
Achei que era ruim ser assim.
Quase como que um defeito de nascença,
uma deficiência ou esquizofrenia.
Depois pensei melhor.
Olhei no dicionário, está lá:
"Complicado = adj.; composto de grande número de peças; complexo; trabalhoso"
Desconfio de quem é muito plano.
De quem finge que não têm neuras, medos, complexos. Aliás, de quem finge!
Aquilo que é trabalhoso é o que dá dignidade e não o que é fácil.
Se debruçar sobre a alma de alguém.Tentar entender sua magnitude é um ato de amor.
Sair de nós mesmos para, por um minuto, ser o filho, a mãe, o marido.
E compreender a beleza que habita naquela criatura complexa.
Meio doida, meio santa, muito humana.
O raso é o raso. Só.
O máximo que se consegue é encher um pouco com a chuva e secar no calor.

Quantos são os nomes de Deus? 72!
Sim, 72 faces de um mesmo Ser.
Um ser que está na chuva, no ar e no fogo. No início, no meio e no fim.
No exército e na paz, no pão, nas estrelas e na areia do deserto.
É complexo? Complicado?
Pois é...

26 setembro 2012

Doçura

UMA ÚNICA PALAVRA:
Inesquecível.


A tempestade que havia em mim passou.
Os vendavais, ondas revoltas e tudo o mais foi-se embora.
O que ficou?
Não, não foi a paz.
E sim um vazio imenso.
À espera de uma nova razão
Que mais uma vez tire tudo do lugar.
E reorganize de modo belo e desordeiro
O que sou incapaz de fazer sozinha.

25 setembro 2012

Das esperanças...


O que seria de mim se não fosse a espera?
Ela é quase que uma segunda pele, uma segunda natureza.
Que anda junto ao desespero, à urgência.
Um desespero que sempre sabe que terá que passar pelo purgatório da sala-de-espera.
Ou mais uma fila ou sabe-se lá o quê! Mas haverá!
No meio do caminho sempre haverá uma pedra.
Somos viajantes em um mundo em que não há estradas retas ou planas.
Há que se esperar o mau tempo passar. A boiada. As crianças saindo da escola.
Eu espero na urgência que sinto em prosseguir.
No gosto pela inércia dos fatos conhecidos.
Pelo desejo de mudar sem mudar.
De esperar sem desesperar.
De esperança em esperança, finjo que sobrevivo.
Finjo que tenho calma, que sou um poço de paz.
Apenas finjo...
Quem sabe assim o esperar se torna mais breve?

17 setembro 2012

Só se for agora


"Se você ama, diga que ama. Diga o seu conforto por saber que aquela vida e a sua vida se olham amorosamente e têm um lugar de encontro. Diga a sua gratidão. O seu contentamento. A festa que acontece em você toda vez que lembra que o outro existe. E se for muito difícil dizer com palavras, diga de outras maneiras que também possam ser ouvidas. Prepare surpresas. Borde delicadezas no tecido às vezes áspero das horas. Reinaugure gestos de companheirismo. Mas, não deixe para depois. Depois é um tempo sempre duvidoso. Depois é distante daqui. Depois é sei lá."

08 agosto 2012

Purificação



Eu sou a Transformação.
Ardo! Dôo!
Mas sei Florescer como ninguém.

28 julho 2012

?


Fico pensando se existe mérito nesta terra...

27 julho 2012

Reflexões sobre o amor


Será o amor  algo que tira o sono,
atordoa, faz perder o apetite
e a viver sempre com o coração na boca?

Será algo que nos saca o senso de realidade,
de levantar todo dia para trabalhar,
de reparar nas outras pessoas,
de querer se divertir com a família e amigos?

Se nos colocamos em primeiro plano:
Nossos sonhos, buscas e aspirações
Isso não é o amor, é o ego
Se somos dominados pelos ciúmes
Ou pelo desespero de querer manter
o objeto da nossa devoção ao nosso lado,
isso é posse
Se só vemos aquela pessoa
Só pensamos nela,
Isso é obsessão!

Penso que se fala muito sobre o amor.
Porém poucos o conhecem.
Falo isso também por mim
Pois me pego descobrindo que não o conhecia
Conheci paixões
Porém, amor não.

Amor vem quando não o buscamos
É presente dos céus
Se apresenta quando bem deseja 
E quando não o buscamos
E muito menos quando escolhemos

Tem vontade própria
Mas não nos tira do chão
Não é nenhuma droga alucinógena
Pelo contrário
Dá-nos e senso exato de nós mesmos
É luz em estado puro
E nos mostra de forma crua
Nossos medos, fraquezas e imperfeições

Faz com que desejemos ser melhores em tudo:
melhores mães, pais, filhos, esposas, companheiros
É um senso de responsabilidade imenso
Queremos ter saúde
respeito, honra
O amor é digno disso!



24 julho 2012

Reencontro



Dizem que os acontecimentos da vida são como as águas de um rio: nunca voltam. Eu cá tenho as minhas dúvidas.


A terra é redonda, por isso acredito que essa água pode voltar a passar pelo mesmo rio 2, 3, infinitas vezes. Em suas muitas formas de ser: água de chuva, vapor, água salgada, granizo, gelo... Ela voltará diferente, sem dúvida, e o rio também já não será mais o mesmo. Porém, mais dia menos dias se encontrarão. Todos fazemos parte de uma mesma trama, uma mesma colcha tecida por mãos sábias e oniscientes.


O que sinto é que a vida se dá, não em forma de círculos exatos que se sobrepõem. Como na escola: terminamos uma séria e logo outra se inicia. Mas nos esquecemos de que essas etapas são apenas ferramentas de organização da aprendizagem, como na vida. A cada etapa o grau de  dificuldade aumenta, afinal, estamos mais preparados. A vida irá nos testar em cada ponto. Afinal, só se pode seguir adiante, após ter aprendido bem aquela lição. Pois será a partir dela que iremos construir o próximo degrau. Aí temos mais claro o formado da vida, sua radiografia: uma bela escada em forma de espiral!


A alegria de ver a vida como espirais é que quando menos esperamos coisas, fatos ou pessoas que tínhamos como perdidos podem voltar! E como é bom sentir um perfume conhecido, uma voz conhecida, um sabor que pensávamos que jamais sentiríamos. E o que dizer, então, dos olhos de um amigo que marcou uma época, que nos acolhia com a sua presença, para quem eu era sempre uma boa surpresa no meio do caminho? Não dá para explicar! O reencontro fica com cara de milagre, de um presente!


Claro que como as águas do rio já não somos mais os mesmos, estamos transformados, moldados por tudo o que vivemos. Mas na essência somos as mesmas pessoas, o mesmo tom de voz, o mesmo perfume da pele, o mesmo modo de tocar e de olhar.


São situações raras, que deixa um rastro de magia, de presente que ressurge e que nos faz ter certeza de que o tempo não existe.Só o que existe é o contato, o estar com o outro. Estar em toda plenitude do termo. Quando nos esvaziamos de nós mesmos, baixamos a guarda e permitimos ser parte e não possuidores.