11 outubro 2009





Empurro as abas da janela com força
Abro o peito, os pulmões
Na ânsia louca de experimentar as boas e velhas novas trazidas pelo vento
Sentir o hálito de lugares distantes, nunca pisados, mas imensamente conhecidos
Ouvir a música das vozes de outrora, o balbúrdio da hora do almoço, a conversa no portão...

A brisa acaricia de leve meus cabelos sobre os ombros, 
empurra de leve  alça do vestido
Corro para a porta
Abro com esperança,
um esperança que não conhece começo nem fim, só largueza

Saudades de um tempo de riso fácil
De alegria que não sabia de si mesma
De um lugar que se perdeu na neblina da manhã
Mas que volta e meia o vento insiste em trazer

28 maio 2009

Senhor Ventania





Chegue calmo ou apressado
Forte, sorrateiro ou avisado
Como quiseres...
Soubambu, esse é o meu nome
Me dobro!
Reverenciar-te é o meu destino
Espero-te todos os dias,
Mensagens assoviadas,
Assopradas entre os meus cabelos,
soltos ramos, brilhando sob o sol.
Soubambu, amiga da luz,
da chuva, do sol.
Mas sou esposa do Vento,
Com quem me deito nas tardes mornas,
e me desfolho nas noites tempestuosas.

11 maio 2009

Alumbramento




Meus olhos estavam confusos diante daquela luz.

Será que já havia dormido tanto e não havia me dado conta? Era dia? Cadê os bem-te-vis?

E a alegria dos cachorros me acordando para terminarem de dormir mais um pouquinho comigo?

Não, não era a claridade da manhã. Mas também não parecia em nada com a de uma lâmpada.


Fiquei assim, corpo prostrado sobre o colchão, sentindo o conforto dos lençóis.

Me faltava a disposição para saber de onde vinha tanta luz.

O aconchego era maior que a curiosidade.


Meus olhos tornaram-se pesados. Voltei a dormir.

09 maio 2009

Socorro!



Grito às árvores por socorro,

por uma resposta, um alívio.

Elas só me respondem com sussurros,

com o farfalhar tagarelante entre elas.


Viro as costas desolada!

Só folhas em branco...

Olho o céu,a chuva, observo o vento...

Nada!


Em nenhum deles as palavras que desejo ouvir,

a voz que anseio escutar

ou os olhos que acalentavam meu coração.


Tudo se tornou estranho,

o dia se fez noite.

E nem a lua veio ao meu encontro.

21 abril 2009

Poesia



"Uma poesia
não é feita com palavras.
A poesia já existe.
A gente só põe as palavras em
volta para ela aparecer
- como as bandagens do
homem invisível, lembra?"

08 março 2009

Confissão



" Gosto tão grande de ti
Que já não sei disfarçar
E cada vez que te olhar
Sei que não vou resistir
meus olhos vão te beijar
E meu coração te sorrir"

Altair de oliveira, In: " O alento"

20 fevereiro 2009

Coragem




"O correr da vida embrulha tudo.
A vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é
CORAGEM!"


João Guimarães Rosa

11 fevereiro 2009

Mochi [moti]



Sou passional. Exagerada!
O que fazer com 3/4 de sangue calabrés correndo pelas veias? Outro 0,5% de portugueses nervosos, bocas-sujas e corações de manteiga?
Talvez, na aparência, demonstre apenas meu 0,5% de sangue holandês: sorridente, amante das flores e das bikes. Também sou bem branca, rosada, macia e suave como um mochi [moti], aquele docinho de de arroz que vemos nas bandejas das lojas de alimentos no bairro da Liberdade.
Doce ilusão!
Sou pimenta brava. Cravo cru mastigado, canela mascada. Basta a tensão chegar, tensionar, apertar...
Não durmo com um desaforo engasgado.
Sapos não estão entre os meus pratos favoritos. E, também, porque cheguei numa idade que só como do que gosto.
Porém sou "facinha".
Facinha de amar, de ficar de bem, de arrancar um sorriso.
Igual criança chorona que se apascenta com um simples afago na cabeça. Cachorro vira-lata que late até quase se rasgar para no instante seguinte estar abanando o rabo.
Um tio, interessado em adquirir cidadania italiana, descobriu que pelo sobrenome do meu avô não receberia permissão, pois nossos antepassados constavam na lista de criminosos, os famosos mafiosos, daquele país. Então tentou pelo sobrenome da minha avó. Idem!
Talvez, tenha herdado dos meus antecessores algumas características bem peculiares, que não chegaram ao ponto de fazer de mim uma criminosa. Pelo menos não diretamente.
Mas, faço drama, ameaças, gesticulo além da conta e grito quando pressinto perigo. Perigo de perder as pessoas que amo, perigo de me tornar amarga, perigo de não ser feliz.
Ou, quem sabe, seja uma forma de esconder minhas fragilidades, de tentar disfarçar os meus medos, além da doçura e da moleza do coração?
Brigo pelo gosto de ficar de bem, pelo prazer dobrado que vem com a reconciliação.
Não aceito injustiças. Não coloco a cabeça no travesseiro sabendo que está ao meu alcance solucionar um problema, que para uma outra pessoa, seria difícil. Só suporto a minha dor. A alheia me é terrível demais. Por isso sou inquieta e briguenta.
Roubo para ser agarrada. Aponto a arma para que o relacionamento continue vivo. Para que eu mesma continue. Não sucumba diante da dureza da vida.
Admiro a moderação e a temperança! Mas desconfio de quem não ferve nunca. Me indigna a pessoa morna.Para mim é carne quente por cima disfarçando um coração estéril, aguado, sem um pingo de nutrientes. Um coração que não briga não faz crescer.
Sou da filosofia de que pedras que não entram em atrito formam limbo. E como tornam-se traiçoeiras e perigosas tais pessoas!

22 janeiro 2009

Sabedoria e felicidade



"Mais vale um pássaro na mão do que dois voando",

"Antes só do que mal acompanhado",

"Dar murros em ponta de faca"...

Fui um criança com dificuldade para entender o que os adultos falavam. Vivia tão imersa em meu próprio universo que tais frases (às vezes carregadas de grande sabedoria, outras de grandes preconceitos) só vieram fazer sentido quando as 'coisas' da vida real, da vida adulta, foram-se chegando.

Não as busquei. Mas era natural que viessem.

Uma a uma. As complicações que nos fazem parar diante do espelho do travesseiro molhado e dizer:" -Cresci!" Ou pior, "-Estou crescendo". Pois o fato não está consumado. Nunca estará.

A sensação é de uma fruta verde embalada em jornal e colocada em local escuro. E uma voz assombrosa no fundo: "- Hay que amaducerer!!!!"

Me desperto de pronto. Saio do torpor.

Fruta verde também é gostosa algumas vezes, com um pouco de sal...ou mesmo marrenta, azeda...Mas nada se compara ao perfume, à cor e ao sabor de uma fruta madura em seu próprio galho, ao sabor do sol e do vento.

Mas nem sempre temos acesso ao privilégio de um amadurecimento tranquilo, no tempo devido.

Outras vezes, muitas aliás, resistimos ao amadurecimento. Só deixando o passado de fruta verde para o de fruta madura, após uma verdadeira sessão de tortura.

É quando aprendemos a não ficar dando murros em ponta de faca. Que é muito melhor estar só que diante de alguém que não nos enxerga mais. Ou a nos submetermos a companhias que, na realidade, nada tem que ver com quem somos, almejamos, acreditamos ou desejamos.

Queremos tanto. Sonhamos tão alto, mas em certas situações nos contentamos com muito pouco. Migalhas de relacionamentos muito aquém do que podemos oferecer ou almejar.

É uma grande sabedoria não dar murros em ponta de faca. Apesar e ser tão óbvio que isso machuca demais.

Dizem que as pessoas mais sábias são mais felizes!

Para o Budismo o motivo de todo sofrimento é o apego. Vejo sentido!

Um dia talvez aprenda, como canta Lenine, a não "alimentar nada duvidoso", "nem dar de comer a cachorro raivoso". É um longo caminho pra mim que fiz isso por anos: aprender a parar de chutar cachorro morto. Entender que mais vale ser um pássaro só do que dois que pensam que estão voando.

10 janeiro 2009

Eu tenho dragões, você têm?



Que fique só entre nós. Por favor. Eu tenho um segredo, na verdade uma mania. Vou falar bem baixinho: gosto de acumular coisas!

Outro dia li uma história que me deixou muito triste. Era sobre um menino, quase um rapaz, que descobriu o tesouro de um dragão. Tudo bem que o garoto era uma peste, mas não merecia tudo o que lhe aconteceu.

O dragão havia acabado de morrer e, por sorte, ou azar, Eustáquio, esse era o nome do rapaz, havia acabado de chegar na caverna para descansar um pouco. Num primeiro momento ficou eufórico, queria carregar o máximo de jóias que conseguisse. Mas também não queria deixar nada para trás. O que fazer? Enquanto pensava, adormeceu.

Quando acordou se sentiu estranho. Já não era mais o mesmo garoto rápido e ágil de antes. Seu corpo havia se tornado pesado e lento. Ficou com medo de sair da caverna e deixar seu tesouro para que outro se apossasse dele. Mas sua sede era tanta, que a muito custo caminhou até o lago. Ao abaixar, não acreditou no que viu refletido na água: ele havia se transformado num enorme dragão!

Um poderoso dragão! Com asas, nadadeiras e escamas! Mas, todo esse equipamento, na verdade, não serve de muita coisa, pois sua enorme pança não lhe permite grandes voos, nem grandes caminhadas. Além do mais, vive com medo de deixar por muito tempo sua caverna sozinha, pois podem roubá-lo.

Por isso dragão não corre, não brinca, não toma sol, nem se diverte no lago e sua pele vai ficando acinzentada e cascorenta.

É uma vida triste a de dragão!

Não compreendia direito o por quê de, nos contos de fada, o bravo, e corajoso guerreiro, além de salvar a princesa e resgatar o tesouro, precisar matar o dragão com sua própria espada.

Achava isso uma animosidade! Não compreendia que dragão não é um animal e, que esta batalha terrível, acontece todos os dias dentro de nós mesmos.

Estas histórias não deveriam ser chamadas de infantis, pois crianças não têm dragões. Nós sim, adultos, é que os temos aos montes!

Também na minha compaixão pelo bichinho, nunca havia me perguntado por que um dragão necessita de um tesouro. E de uma princesa.

Ele é um ser fantástico. Dotado de grandes atributos: escamas e nadadeiras que o permitiriam desbravar todos os mares e oceanos, asas e pernas fortes para que ganhasse o mundo!

Se assim o fizesse deixaria de ser um dragão ocidental para se tornar um dragão oriental. Com toda a sua glória e poder.

Sim, pois é para lá, pro Oriente, onde vão todos os dragões que conseguem perceber que não necessitam acumular tesouro algum. Muito menos conservar donzelas na sua caverna. Que a liberdade e os talentos que possuímos ninguém nos tira ou rouba. Muito menos nossos afetos.

Chegando do outro lado do mundo, após longas caminhadas e longos voos, seu corpo tornou-se esguio e musculoso. A luz do sol faz brilhar suas escamas, agora de um tom vermelho dourado.

Ele é ornado com flores e recebido com festa. E não habita mais em cavernas escuras e bolorentas, mas altos tronos com bandeiras tremulantes.

Também dizem que ele se torna capaz de habitar os três reinos de tanto merecimento: o reino dos mortos, pois o conhece profundamente, o terrestre e os céus elevados. Poderoso esse ser, não é?

Enquanto isso seguimos aqui, com nossos inúmeros dragões. Olhos caídos, pele flácida e sem brilho, soltando fumaças fedorentas pelas ventas e carregando pesadamente o fardo das inúmeras coisas materiais que achamos que necessitamos ou um dia iremos precisar.