29 outubro 2008

Uma arte - Elizabeth Bishop



"A arte de perder não tarda aprender;
Tantas coisas parecem feitas com o molde da perda
que o perdê-las não traz desastre.

Perca algo a cada dia. Aceite o susto de perder as chaves,
e a hora passada embalde.
A arte de perder não tarda aprender.

Pratica perder mais rápido mil coisas mais:
lugares, nomes, onde pensaste de férias ir.
Nenhuma perda trará desastre.

Perdi o relógio de minha mãe.
A última, ou a penúltima, de minhas casas queridas foi-se.
Não tarda aprender, a arte de perder

Perdi duas cidades, eram deliciosas.
E, pior, alguns reinos que tive, dois rios, um continente.
Sinto sua falta, nenhum desastre.

- Mesmo perder-te a ti ( a voz que ria, um ente amado),
mentir não posso. É evidente:
a arte de perder muito não tarda aprender,
embora a perda - escreva tudo!
-Lembre desastre."

19 outubro 2008

A maldição do dragão (antiga maldição na China)



Que você tenha comida até ficar farto todos os dias da sua vida.
E que viva muitos anos.
Que nunca lhe faltem nem a água nem a luz.
Que os atalhos sejam suaves enquanto caminhe.
Que os espinhos se afastem de seu lado.
Que seus inimigos o deixem passar sem atacar.
Que nenhuma dor o fira o flanco.
Que ninguém o machuque à traição.
Que ninguém o ofenda nem sequer com um gesto.
Que tenha tudo o que possa desejar;
por longos e longos anos.
Mas que lhe falte o amor.

Felizmente o Dragão às vezes nos benze:

Que as chuvas que molhem você sejam suaves e mornas.
Que o vento chegue cheio do perfume das flores.
Que os rios lhe sejam propícios e corram para o lado que você queira navegar.
Que as nuvens cubram o sol quando estiver sozinho no deserto.
Que os desertos se encham de árvores quando tiver que atravessá-los.
Que você encontre as plantas mágicas que guardam em sua raiz o remédio que lhe falta.
Que o frio e a neve cheguem quando você estiver em uma casa quente.
Que nunca lhe falte o fogo,
Que nunca lhe falte a água,
Que nunca lhe falte o amor.

Talvez o fogo se possa acender.
Talvez a água possa cair do céu.
Se lhe faltar amor, não há água nem fogo que sejam suficientes para continuar vivendo.


Gustavo Roldán

06 outubro 2008

Há Anjos



Há Anjos por todos os lados!
Enormes, gigantes, imensos!!
Há Anjos, Senhor, há Anjos!
Como alguém podia não vê-lo?
O céu estava tão claro,
o ar leve, agradável, puro.
Ele chegou, prostrou-se ali,
Junto ao ipê-amarelo
Em frente ao portão da garagem,
Devia ter uns 8 metros de altura,
era branco e brilhante como um cristal!
Com sua luz cintilante sob o sol,
fazendo o que os anjos fazem:
Proteger!