30 julho 2011

Cafeomancia



O café cheirava longe. Eu sabia que era o perfume exato do que eu queria. Nem mais forte, nem mais fraco. Segurei a xícara com as duas mãos para sentir o calor, também para que não caísse. Cada gole era como se fosse o primeiro. Olhei para ele: como você pode fazer isso? Exatamente o ponto exato que me agrada? Ele sorria discreto. Pelo canto do olho me observava completamente obcecada pelo presente entre nas minhas mãos. Tomei tudo. Repeti mais um pouquinho, morrendo de vergonha da minha gulodice.
Depois, olhei para o fundo da xícara vazio. Palavras me vieram à mente. Profecias antigas. A marca da tinta do café circulava o fundo do recipiente. No centro só o vazio. Girava a xícara de um lado para o outro na esperança que alguma gota preenchesse o centro. Não havia mais gota. Olhei nos seus olhos. Ele não entendei nada. Abaixei a cabeça mais uma vez para ver o fundo. Nenhum milagre aconteceu. Meu coração continuava lá acompanhado do mesmo cheiro, manchado com as suas cores, apenas a quentura diminuía. O vazio intacto.